As profissões do teatro

Teatro D.Maria II

As profissões do teatro
Além do que se vê em palco, há um glossário completo de profissionais que fazem o teatro acontecer

Catarina Homem Marques

O pano sobe. Acende-se uma luz. O herói da história entra no palco, diz as primeiras palavras e ainda se ouve uma música no momento certo. É para assistir a isso que o espectador ali está, aceitando a ficção como verdade, não pensando nos artifícios, avançando pela peça sem pensar que é isso que está a fazer.
É assim que acontece, espectáculo a espectáculo, mas para acontecer assim é preciso muito mais do que aquilo que parece, ou até do que se vê, e às vezes muito mais do que se consegue imaginar.
Afinal, alguém teve de subir o pano e acender a luz. Alguém teve de decorar o texto, que normalmente terá sido escrito por outro alguém. E alguém pensou na música que alguém teve de ligar no momento certo. Além disso, houve uma pessoa que vendeu o bilhete, e outra que costurou uma bainha que nem se vê, e mais uma que pôs água no copo que a personagem tem de beber em frente ao cenário que alguém idealizou, e que alguém construiu, e que alguém montou ali onde está agora.
É assim fora de palco, no tecto acima do palco, abaixo das tábuas, e até quando ainda nem há um palco definido – uma peça de teatro é feita por muitas pessoas além dos actores que se vêem em cena, e depende de muitos trabalhos combinados. Apresentam-se de seguida, por ordem alfabética, as principais profissões que tornam o teatro possível.

CENOGRAFIA – Há palcos mais vazios, há estruturas mais clássicas, cenários que mudam ao longo da peça e outros que se mantêm. Seja qual for o caso, aquilo que enquadra a peça é pensado por cenógrafos, que podem inclusivamente ser artistas plásticos ou arquitectos, ou trabalhar em colaboração com estes, para chegar ao resultado pretendido. Além de desenharem o cenário, devem também acompanhar a construção e montagem, que será depois executada pela equipa técnica. Este trabalho pode também ser complementado pelo de um aderecista, que produz ou define os materiais e objectos a serem usados em cena.
COMUNICAÇÃO – Esta equipa está sentada longe do palco, e faz quase todo o seu trabalho antes de haver sequer uma estreia. Aliás, é por causa dos profissionais de comunicação que a informação sobre o espectáculo chega ao maior número de pessoas, e são também eles que garantem os materiais de leitura a que os espectadores podem aceder para descobrir mais sobre o espectáculo que vão ver.
CONTRA-REGRA – Pode-se dizer que este profissional é um bocado o faz tudo quando o espectáculo está a acontecer. Tem de garantir que toda a gente tem acesso aos materiais de que necessita para fazer a sua parte (na construção do cenário, junto dos actores em cena, nos adereços, na maquilhagem, etc.) e é também responsável por coordenar todas as entradas dos actores em cena. Estando o contra-regra presente, ninguém tem desculpa para se distrair.
DIRECÇÃO ARTÍSTICA – Normalmente, a pessoa responsável pela direcção artística dá a cara por um teatro e não apenas por uma peça. Aliás, é essa pessoa que define a identidade do teatro que dirige, que peças recebe, qual é a programação que vai cumprir a missão cultural a que se propõe. Mais concretamente, quando decidir ir ver uma peça a uma sala de espectáculos saiba que esta foi convidada a apresentar-se (ou mesmo encomendada de raiz) a pedido da direcção artística.
DIRECÇÃO DE CENA – Às vezes, quando uma peça ou um teatro tem muitas equipas para gerir, muitas coisas a acontecer, é preciso que alguém se responsabilize directamente pela caixa do teatro – ou seja, pelas burocracias específicas do sítio onde o espectáculo acontece, que podem incluir horários de ensaio, a comunicação entre a equipa do teatro e a equipa de uma peça em específico, e até assinar tabelas de serviço.
DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO – Lembra-se do contra-regra? Neste caso, os produtores são o faz tudo do lado mais burocrático. Às vezes, podem parecer os mais chatos de serviço, mas não se faz nada sem eles – fazem as contas, gerem os orçamentos, contratam as diferentes equipas, além de serem responsáveis pelo cumprimento de todos os prazos estabelecidos. Em suma: quando qualquer pessoa tem um problema, fala com os produtores, o que significa que eles devem ter uma perspectiva diferente sobre quem são os chatos.
DIRECÇÃO MUSICAL/SONOPLASTIA – Como num filme, as peças precisam de uma banda-sonora, seja ela original ou feita a partir de música que já existe. Estes profissionais, que trabalham com técnicos de som, regulam ainda outras sonoridades em palco, como ruídos ou efeitos especiais. Hoje em dia, e cada vez mais, há técnicos de som que tão também técnicos de vídeo, e cada vez há mais peças que requerem o trabalho específico de uma direcção de vídeo.
DIRECÇÃO TÉCNICA – Não é possível avançar com um espectáculo sem garantir que todos os elementos técnicos estão a postos, seja pela manutenção de equipamentos essenciais ao que vai acontecer em palco, seja pela coordenação de todas as equipas que tornam a montagem do espectáculo possível – desde funções mais invisíveis, como electricistas ou carpinteiros, às que prestam apoio técnico a quase todos os “sectores” da equipa, do guarda-roupa à sonoplastia.
DRAMATURGIA – Os dramaturgos são as pessoas que escrevem as peças, mesmo que já tenha sido há muito tempo, noutra época ou até noutro país. Shakespeare é um bom exemplo. A função da dramaturgia pode coincidir com esta, mas pode também ser a pessoa que coordena o trabalho de quem escreve, ou que escolhe textos e os combina ou adapta de forma a compor a estrutura literária/textual da peça que se apresenta – quando esta estrutura existe, claro.
ENCENAÇÃO – Há actores, há um espectáculo para construir, e é preciso alguém que tome as decisões artísticas do que vai acontecer em palco, alguém que tenha a visão geral do que deve ser a obra – essa pessoa é o encenador (que pode trabalhar ainda com um assistente de encenação). Dirige o elenco, pensa sobre cenários, música, roupa, iluminação, e coordena todas as vertentes.
FIGURINISTA/GUARDA-ROUPA – Seja nas peças de época, que pedem saias compridas e chapéus altos, ou em espectáculos mais contemporâneas, ou até em peças de época que usam roupas modernas, o figurinismo define todo o vestuário do espectáculo, incluindo adereços. Às vezes, há encenadores que convidam um estilista reconhecido para fazer este trabalho. O figurinista pode trabalhar ainda com um mestre de guarda-roupa, com uma equipa de costura, com cabeleireiros (que não só penteiam como fazem perucas) e com uma equipa de caracterização/maquilhagem.
FRENTE DE CASA – Para ir ao teatro, é preciso comprar bilhete ou saber mais sobre os espectáculos. Quando se entra num teatro, é bom ter com quem falar e a quem pedir informações. E quando já se tem um bilhete na mão e chega a altura de entrar na sala, é importante saber que está lá alguém para nos ajudar a chegar ao sítio certo. E todas essas funções são garantidas pela frente de sala, as pessoas que, quando o espectáculo está pronto, estabelecem a ligação com os seus espectadores.
ILUMINAÇÃO/LUMINOTECNIA – Conhece aquela cena clássica do comediante que procura o foco de luz em palco enquanto este vai fugindo? Só é possível por causa desta profissão. O desenho de luz não implica apenas acender ou desligar interruptores, até porque quem já viu um palco sabe que há muitas lâmpadas a pairar sobre ele. Este é um elemento fundamental para definir o ambiente do espectáculo. Além da vertente artística, a iluminação implica o trabalha de técnicos de luzes especializados.
MAQUINISTA – Só quem espreita os bastidores de um teatro é que tem verdadeira noção da importância deste profissional, também associado à direcção técnica. Há muitas máquinas para pôr a funcionar em harmonia com as vontades de cenógrafos ou iluminadores, e é preciso alguém que garanta que tudo o que está associado ao palco e à caixa do teatro está em pleno funcionamento. Além disso, há poucas profissões tão simbólicas no teatro como esta: afinal, são os maquinistas que afinam os panos e os movimentos de todas as cortinas.
PONTO – É uma profissão clássica do teatro, uma profissão mítica, ainda que cada vez menos comum ou substituída por soluções electrónicas. Este é o profissional que dá apoio directo aos actores durante o espectáculo se estes se esquecerem do texto, ditando-lhes baixinho aquilo que lhes escapar. E basta ver a peça Sopro (ou ler o texto sobre a peça que faz também parte do projecto PRIMEIRA VEZ) para perceber isso ainda melhor.

Tenha também a sua Primeira Vez no Teatro Nacional D. Maria II, inscreva-se aqui



Todos os Direitos Reservados ©Primeira Vez 2024
Desenvolvido por TMO Web Creative